Neurocirurgia Funcional
A Neurocirurgia Funcional é uma divisão da neurocirurgia que utiliza modernas técnicas de intervenção com o objetivo de melhorar o funcionamento de áreas específicas do sistema nervoso (cérebro e medula espinhal), tratando dessa forma uma ampla variedade de sintomas e distúrbios neurológicos. Exemplos de doenças tratadas pela neurocirurgia funcional incluem:
Distúrbios do Movimento (Parkinson, Distonia, Tremor)
Distúrbios do movimento são condições neurológicas que afetam a velocidade, controle, qualidade e destreza dos movimentos do corpo. Os sintomas podem incluir tremores, movimentos involuntários e lentificação ou ausência do movimento (hipocinesia). Essas condições são frequentemente debilitantes e progressivas, limitando a qualidade de vida de seus portadores.
Os principais tipos de distúrbios do movimento são:
Doença de Parkinson: A doença de Parkinson é uma doença progressiva do sistema nervoso que afeta os movimentos do corpo. Ela evolui gradualmente, algumas vezes iniciando com um tremor lento em apenas uma das mãos. Além do tremor, que é o sintoma mais conhecido, a doença de Parkinson também causa lentidão dos movimentos, rigidez dos membros e alteração da marcha. Esses sintomas podem progredir levando a limitação na execução das atividades diárias dos pacientes. O tratamento dos distúrbios do movimento é realizado, na maioria dos casos, através do uso de medicações. Porém, um significativo número de pacientes apresentam sintomas refratários ou desenvolvem efeitos colaterais importantes ao uso de medicamentos. Nesses casos, o tratamento cirúrgico pode ser indicado. Para aumentar a segurança e obter os melhores resultados, o procedimento cirúrgico deve sempre ser realizado por uma equipe formado por um neurocirurgião com especialização em neurocirurgia funcional, neurofisiologista e neurologista. Os procedimentos cirúrgicos para tratamento da Doença de Parkinson e outros distúrbios do movimento incluem tratamentos neuromodulatórios e ablativos. A vantagem da estimulação cerebral é que o efeito é ajustável e reversível, enquanto que a ablação é definitiva e não modificável.
Tremor essencial: O tremor essencial é uma desordem neurológica que causa um tremor rítmico, ocorrendo mais frequentemente nas mãos – especialmente quando o portador tenta realizar alguma atividade como segurar um copo de água ou escrever. Alguns pacientes com tremor essencial podem não precisar de tratamento se seus sintomas são leves, porém em casos em que o tremor interfere nas atividades diárias ou trabalho é necessário o uso de medicações. O tratamento neuromodulatório com Estimulação Cerebral Profunda pode ajudar nos casos severos que não respondem a medicamentos
Distonia: A distonia é um distúrbio do movimento caracterizado por contrações musculares involuntárias que causam movimentos repetitivos, torções ou posturas anormais na parte do corpo afetada. Os sintomas podem ser leves ou severos, levando muitas vezes a restrições nas atividades diárias. Essa doença pode ser hereditária ou causada por traumas cranianos, infecção ou uso de medicações (neurolépticos). A distonia pode ser classificada em focal, hemidistonia, generalizada entre outros tipos. As formas mais comuns de distonia são: distonia cervical (torcicolo espasmódico) , blefaroespasmo e distonia focal na mão. O uso de medicações podem melhorar os sintomas da distonia, porém em casos severos o tratamento neuromodulatório está indicado, principalmente:
Estimulação Cerebral Profunda (DBS)
A estimulação cerebral profunda é um procedimento cirúrgico minimamente invasivo utilizado no controle de distúrbios do movimento. Através desse tratamento, pacientes com Doença de Parkinson, Tremor Essencial e Distonia podem obter melhora significativa de seus sintomas e de sua qualidade de vida.
O DBS é um aparelho de neuroestimulação, semelhante ao marca-passo cardíaco, que libera de forma precisa impulsos elétricos em regiões específicas do cérebro. A atividade elétrica anormal dos circuitos cerebrais nessas regiões é uma das causa dos sintomas apresentados pelos pacientes com Doença de Parkinson. O impulso elétrico produzido pelo aparelho de DBS bloqueia essa atividade elétrica anormal fazendo com o que o cérebro funcione normalmente. A neuroestimulação produz uma melhora importante dos sintomas que antes eram tratados com uso de medicações, mas que deixaram de responder adequadamente. Além disso, o DBS leva a redução na quantidade ingerida de medicamentos e nas complicações do seu uso crônico (discinesias, fenômeno ON-OFF).
Dor Crônica
As intervenções da Neurocirurgia Funcional para a dor têm como objetivo tratar alterações do sistema nervoso central ou periférico que representam gatilhos para o surgimento da dor crônica. Para o manejo da dor, utilizamos técnicas minimamente invasivas, e de baixo risco cirúrgico, como o implante de eletrodos de estimulação cerebral ou medular, os sistemas de infusão de medicações analgésicas e a radiofrequência. Os principais tipos de dor crônica observados na nossa prática clínica incluem:
- Enxaqueca Crônica
- Dor Cervical
- Dor Lombar / Lombociatalgia
- Neuralgia do Trigêmeo
- Neuralgia Occipital
- Neuralgia do Glossofaríngeo
- Síndrome Facetária
- Síndrome Pós-Laminectomia
- Dor de Origem Oncológica
- Dor do Membro Fantasma
Os procedimentos utilizados para o tratamento da dor crônica incluem:
- Estimulação da Medula Espinhal
- Estimulação do Córtex Motor
- Neuroestimulação Occipital
- Bomba de Infusão de Fármacos
- Vertebroplastia
- Rizotomia Percutânea por Radiofrequência
- Neurotomia do Trigêmeo por Balão
- Neurotomia do Trigêmeo por Radiofrequência
- Descompressão Neurovascular
Epilepsia
Para a maioria dos pacientes com epilepsia o uso correto de medicações é suficiente para o controle das crises. Porém, em cerca de 20 a 30% dos casos as crises são refratárias ao uso de medicações e a cirurgia pode ser uma opção para o controle da epilepsia. A avaliação pré-operatória normalmente inclui:
- • Detalhada história clínica e exame físico
- • Exames de neuroimagem (Ressonância magnética, PET-Scan, Spect)
- • Monitoramento por vídeo-EEG
- • Avaliação neuropsicológica
O objetivo da cirurgia de epilepsia é ressecar a área do cérebro que origina as crises epilépticas sem causar nenhuma alteração funcional ao paciente. Em alguns casos o tratamento é realizado através de procedimentos de neuromodulação.
As técnicas utilizadas no tratamento cirúrgico da epilepsia são:
- • Estimulação do Nervo Vago
- • Lesionectomia
- • Corticectomia
- • Calosotomia
- • Hemisferectomia
Espasticidade
Espasticidade é quando ocorre um aumento do tônus muscular, envolvendo hipertonia e hiperreflexia, no momento da contração muscular, causado por uma condição neurológica anormal. Os músculos espásticos são mais resistentes à extensão e tendem à contração, porém, quando realizado o movimento passivo, tendem a oferecer uma certa resistência e, mantendo a força constante, do movimento passivo, os músculos espásticos tendem a ceder. É um dos distúrbios motores mais frequentes e incapacitantes que ocorrem em pacientes com lesões no sistema nervoso.1 ik, Ela causa um déficit motor que compromete a realização das tarefas diárias e limita a funcionalidade dos membros afetados. É causada por uma condição neurológica anormal resultante de uma lesão no cérebro. A espasticidade pode ser observada nas lesões dos neurônio Córtico-retículo bulbo-espinhais.
Quando não são tratadas podem agravar podendo levar a atrofia muscular e deformidades.
Esta condição afeta adultos e crianças com uma grande variedade de patologias agudas e crônicas como acidente vascular encefálico, traumatismo raquimedular e crânio-encefálico, esclerose múltipla, paralisia cerebral entre outras.
A espasticidade é o distúrbio motor que mais compromete e incapacita o indivíduo, pois dificulta o seu posicionamento confortável, prejudica as tarefas da vida diária como: alimentação, locomoção, transferência e os cuidados de higiene. Quando não tratada causa contraturas, rigidez, luxações, dor e deformidades.
Distúrbios do Comportamento
Recentemente, observamos um renascimento no interesse do tratamento cirúrgico de distúrbios psiquiátricos. Pesquisas recentes em neurobiologia e avanços em neurocirurgia funcional tem aumentado a segurança na indicação de cirurgia para pacientes com distúrbios psiquiátricos refratários.
Os procedimentos neurocirúrgicos modernos são seguros e com baixa morbidade pós-operatória. Em casos selecionados, após criteriosa avaliação psiquiátrica, condições antes refratárias ao tratamento medicamentoso e a terapia comportamental podem apresentar melhora significativa.
As indicações para tratamento cirúrgico incluem os seguintes transtornos:
- • Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
- • Tiques e Síndrome de Gilles de la Tourette
- • Depressão grave
- • Agressividade
As principais técnicas de tratamentos atualmente utilizados são:
- • Estimulação Cerebral Profunda (DBS)
- • Cingulotomia
- • Tractotomia Subcaudada
- • Capsulotomia anterior